sexta-feira, 18 de março de 2011

Apostila de História Positivo

Momentos antes de sairmos para a Catedral para meditarmos a Via Crucis, nesta sexta-feira da quaresma, meu filho Matheus mostrou-me um texto de sua apostila de História. Nem estava indignado, pois já está acostumado com imbecilidades que são porcamente incutidas na cabeça dos pobres alunos. Não poderia deixar de mencionar o preço "módico" da apostila: em torno de R$90,00 cada. São 4 durante o ano. Eis parte da lição:
Século XV: Transição à Idade Moderna
 (...) O processo, denominado Renascimento Cultural, provocou importantes rupturas com um passado (medieval), caracterizado por pensamentos e concepções ultrapassadas de mundo, que predominavam entre a grande maioria da população. Com exceção de uma pequena parcela da sociedade medieval que possuía acesso ao conhecimento, a absoluta maioria era facilmente influenciada pelas "verdades" estabelecidas pela religião dominante.
 O desenvolvimento científico e o racionalismo presentes no movimento renascentista proporcionaram a superação de uma visão teocêntrica de mundo, predominante em uma época em que a grande aventura do descobrimento não teria sido possível. Ou seja, na Idade Média, predominaram a superstição, o fanatismo e o medo, fatores que tornavam a maioria dos homens submissos a uma visão imposta pela Igreja Católica, segundo a qual a Terra era plana e achatada, o que impossibilitaria uma navegação segura. No imaginativo medieval, a fé estava acima da razão e somente um movimento amplo de renovação cultural - o Renascimento - tornou possível ao homem superar o medo do mar e estimular o seu desejo de se lançar a uma aventura "rumo ao desconhecido".
Fonte: Apostila Positivo, 2008. História. Ensino Médio. 3ª série. 1º volume. págs. 2 e 3.
 O autor da apostila simplesmente vocifera suas antipatias, ódio e preconceitos contra a Idade Média, que foi uma era predominantemente católica. Dai sua ira contra tal período. Ou está mentindo descaradamente ou é um ignorante que não sabe o que está escrevendo.

Deve imaginar que a partir do Renascimento, a Europa passou a ter todo um  conhecimento revolucionário. Antes disso a Europa medieval não andou um único passo em direção ao progresso.

Que verdades seriam estas impostas pela religião dominante? É tão bom historiador que não cita fontes nem exemplos. Tudo abstrato. Demonstra que quem está tentando impor alguma coisa é ele, o "historiador" do Positivo.

Gostaria de saber de qual documento do Magistério, o digníssimo historiador retirou esta "verdade absoluta" que a Igreja ensinava que a Terra era plana e achatada.

Nem precisa ser um historiador com mestrado ou doutorado para após ver as seguintes figuras, chegue a conclusão que no período medieval (e bem antes dele) o homem já sabia da esfericidade da Terra:

Carlos Magno portando os símbolos do poder: a coroa, a espada e um GLOBO.
O que é este globo na mão esquerda do grande Imperador? Ele não tinha o domínio sobre toda a Terra? Pois é. Esta é uma gravura ... medieval!

Otão III que reinou no Sacro Império de 983 à 1002.
Outro imperador segurando um globo na mão, simbolizando a Terra: Otão III.

Nossa Senhora de Montserrat
Imagem em madeira, do século XI. Tanto a Nossa Senhora quanto o Menino Jesus seguram um globo nas mãos. Globo que representa a Terra. Nossa Senhora é a Rainha e Jesus o Criador deste esférico planeta azul.

Caso alguém argumente que os globos acima possam simbolizar o universo ou a esfera celeste, veja o que diz o professor Orlando Fedeli:

"A objeção é fraca. Se fosse válida, Carlos Magno seria Imperador não da Terra, mas do globo celeste, o que igualaria a Deus. Ao fazer a imagem de Cristo, Sabedoria de Deus encarnada, segurando o globo na mão, brincando com a Terra, os artistas tinham se inspirado no texto da Sagrada Escritura, onde a Sabedoria de Deus diz: 'Et delectabar per singulos dies, ludens coram eo in omnitempore, ludens in orbe terrarum' (Provérbios VIII, 30-31): 'E cada dia eu me deleitava brincando continuamente diante dEle, brincando sobre o globo da Terra'. É isso o que diz a Vulgata, texto da bíblia de S. Jerônimo, usado na Idade Média. Portanto, qualquer clérigo ou estudante medieval, conhecendo o texto bíblico, sabia que a Terra era um globo".

"E para que não reste qualquer dúvida de que a Bíblia fala em globo da terra - orbe terrarum -, veja o que diz o Dicionário Latino-Português de José Cretella Jr. e Geraldo de Ulhoa Cintra sobre o significado da palavra latina orbis:

Orbis, is: masc. neutro=redondeza, circulo, a roda, coisa redonda ou circular".

"E o dicionário informa que em Virgílio, o grande poeta romano do tempo de Augusto e autor da Enêida, orbe terraqueo significa o globo da Terra. Temos aí mais um dado. Já Virgílio, na Antigüidade, dizia que a Terra é redonda. E Virgílio era muito lido na Idade Média. Dante Aliguieri o tinha como o modelo dos poetas e como seu mestre".
Mapas pré-cristãos e medievais que apresentam a terra redonda:

Mapa mundi do Beato de Liebana ((?-798)

S.to Isidoro de Sevilha (560-636), a Terra era esférica e formada por três continentes.

os dois mais antigos mapas mundi, feitos no século VI, na Babilónia.
 Contra a objeção de que todos estes mapas são circulares, mas planos e chatos, novamente o Prof. Orlando Fedeli:

"Também os nossos mapas atuais são circulares ou ovalados, mas sempre planos, como pizzas, apesar de conhecermos a perspectiva. Os medievais não conheciam a perspectiva; por isso nos desenhos representavam a Terra como disco. Mas em suas esculturas, como vimos, representavam nosso mundo como globo, como esfera. Ademais, se  o argumento fosse válido, daqui a 1000 anos alguém poderia pensar que no século XX era muito ignorante, pois nele se acreditaria que é plana e chata, como a mostram nossos mapas atuais".
Para saber mais sobre o avanço técnico, intelectual, enfim da humanidade, o caro historiador do Positivo deveria ler  o livro Como a Igreja Católica construiu a civilização ocidental.,.

Quem sabe aprende que homens da Igreja inventaram coisas como: champanhe,  relógio, planador, relógio astronômico, sistema hidráulico (moer, peneirar, lavar roupa, cutelaria, produção de cerveja, entre outros num mesmo arroio dentro dos muros de abadias). Criação de universidades e escolas, técnicas de cultivo e produção agrícola, etc. Saberá também que devemos aos monges, mais especificamente a Alcuíno, a criação da minúscula carolíngea, que "popularizou" a escrita que usamos até hoje (espaço entre as palavras e pontuação).

 Fico imaginando, se um aluno numa questão de uma prova responde corretamente, divergindo do "ensinamento" da apostila, qual será a reação do professor? Tem de responder como está no manual? O que dá a esta apostila autoridade?  O preço? A editora do famoso sistema de ensino?


Nitidamente percebemos a parcialidade do autor. Bem como seu anticatolicismo. Assim agem os discípulos de Marx. Assim agem os discípulos de Gramsci. Assim agem os discípulos do deseducador Paulo Freire.

Se nossos jovens querem aprender de verdade, devem procurar fontes seguras, embasadas.,  confiáveis.  Infelizmente estas distorções não são exclusividade do Positivo. Qualquer livro didático que se abra hoje podemos deparar com estas barbaridades.


         Woods Jr., T. E.Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental. Quadrante: São Paulo, 2008.


Imagens: Christi Fidei 
              Ventos do Universo

2 comentários:

  1. Esse trecho da apostila é de uma acefalia vergonhosa. Quando esses mitos vão acabar?

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  2. Para ele, Chesterton: "Imagine o homem moderno que tivesse levado um volume de teologia medieval para a cama. Ele esperaria encontrar ali um pessimismo que não há, um fatalismo que não há, uma amor à barbárie que não há, um desprezo pela razão que não há. Aliás, seria na verdade muito bom que fizesse a experiência. Far-lhe-á bem de uma forma ou de outra: ou o fará dormir - ou o fará acordar"

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