A partir da imagem de uma pintura partilhada no meu Facebook, aprendi coisas interessantíssimas sobre a nossa Igreja com o amigo e professor Carlos Ramalhete. Coisas essas que nunca foram ensinadas na Catequese.
Trago para o blog a conversa, porque é uma forma de levar a outras pessoas esta deliciosa aula que recebi do Ramalhete.
Interno della Cattedrale gotica di Anversa, 1612 - Pintura de Paul Vredeman de Vries. |
Carlos Ramalhete: Duas coisas bem interessantes:
A
gama dinâmica da pintura, que hoje só se consegue com HDR;
O
espaço aberto e "democrático" da igreja clássica, em que não há
bancos forçando as pessoas a olhar pra frente, há várias Missas ao mesmo tempo,
etc. Daqui a uns cem ou duzentos anos, provavelmente as igrejas terão voltado a
ser assim.
Giovani Rodrigues: Fantástico. Realmente a
fotografia em HDR assemelha-se demais à pintura. Não sabia que as igrejas
não tinham bancos. Sabe quando começaram a ser introduzidos? Sabia que havia
várias missas ao mesmo tempo, mas não que era desta forma. Muito legal!
CR: O uso de bancos foi uma inovação
protestante, que aos poucos foi se introduzindo na Igreja.
GR: bom saber disso. Agora só vou
assistir à missa de pé. mas são uns folgados mesmo, hem?
CR: É engraçado como essas coisas
pseudo-democráticas (no protestantismo, a ausência de ordens, que faria com que
cada um fosse, em teoria, um sacerdote - Cf. Jd11) acabam sendo nem um pouco
democráticas. Na Igreja, cada um podia focar a sua atenção no que quisesse, com
gente indo de Consagração em Consagração, outros ficando do começo ao fim numa
mesma Missa, etc. O foco era Deus, e com isso cada um podia focar no que
quisesse usar para apontar pra Ele.
A
questão não é folga, é a obrigatoriedade de ouvir um mané falando. O
"pastor" estava lá, mandando ver na oralidade (oratória &
oração...), e todo mundo tinha que ouvir as besteiras que ele falava. *Ele*
ficou importante, enquanto o padre é um mero instrumento.
GR: Rapaz, interessantíssimo isso tudo.
CR: Repare na diferença entre o espaço sagrado e
teocêntrico da Igreja, onde ocorre o mesmo Sacrifício em vários altares, e o
espaço antropocêntrico criado pelo protestantismo, em que bancos forçam as
pessoas a prestar atenção em alguém falando. E este falador, por estar virado
para as pessoas, presta atenção nelas, fazendo o "círculo fechado"
que o Papa acusa. Na pintura acima você vê que não há círculos: as pessoas
estão todas voltadas pra Deus, em vários altares. O espaço todo é espaço
cultual.
GR:
Sim! Na imagem as pessoas estão dispersas. os padres celebram sem se
importarem de ter ou não "platéia". Mas e as homilias? Sei que
existem sermões maravilhosos dos Padres da Igreja. Eram aos domingos, onde mais
católicos podiam comparecer?
CR: Isso; tanto que se você pegar os Sermões de
Pe. Antônio Vieira, por exemplo, você vai ver que é um pra cada domingo. E aí -
nessas missas mais solenes - a homilia era feita do púlpito que você pode ver,
à direita, bem no meio da igreja e acima das cabeças. Assim não se corria o
risco de misturar a ação humana (o sermão, para o qual o padre tira o manípulo,
marcando que é "outra coisa" que não o serviço do altar) com a ação
divina.
GR: Por que nunca me ensinaram estas coisas na
catequese? :(
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