PADRE IRMÃO PAULO: SEM ELE A CIDADE FICOU MENOR
Por: Paulo Lucas Nani (Folha Campanhense - Edição 120 / de abril/2007)
Volte-se
um pouco no tempo, na década de 1920. O menino Emilien Lamothe aprende
suas primeiras letras em sua cidade natal, Saint Leonard d´Aston.
Protegido em seu manto familiar, nascido no Canadá, um belo país,
organizado e rico, não imaginava que o destino lhe reservava uma grande
aventura, muito longe de sua cidade, além do oceano. Tudo começou quando
descobre sua vocação religiosa e ingressa na Congregação dos Irmãos do
Sagrado Coração. E, ainda muito novo, vinte e poucos anos, aporta num
país longínquo de sua pátria e de sua família. Uma nação de natureza
esplendidamente bela sob a claridade constante do sol dos trópicos e do
verde das matas, até então intocadas, onde habitava um povo devoto,
carente e pobre, mas hospitaleiro e sedento por conhecimentos.
Seu
amor por Campanha tem data marcada, 27 de fevereiro de 1948, quando
aqui chegou. Um amor quase juvenil, sem talvez maiores conseqüências,
atitude própria de quem tem a juventude em seu rosto e as ilusões de
muita vida pela frente. Em Campanha, começou um belo e extenso trabalho
de missionário professando a educação como a grande mola propulsora para
o crescimento das pessoas e cidadãos. A Congregação dos Irmãos do
Sagrado Coração, da qual foi um de seus mais expressivos expoentes, foi a
grande dádiva que abençoou gerações de alunos no aprendizado dos livros
e da vida. O grande Colégio São João preparou homens para a vida
através do conhecimento e saber, lastreados em indissolúveis princípios
éticos, morais e cristãos. Irmão Paulo representou com competência e
apostolado esse nobre mister de professor aqui em Campanha, angariando
de seus muitos alunos a gratidão e o respeito por sua influência, sua
amizade e seus conhecimentos.
Irmão
Paulo era, antes de mais nada, um grande líder que transformou projetos
e sonhos em notáveis realizações. Sabia comandar e se fazer obedecido.
Um bom exemplo foi sua condução impecável de uma banda marcial que, sob
sua regência e comando, tornou-se campeã e objeto de admiração e orgulho
dos campanhenses. O detalhe é que o regente irmão Paulo nunca fora da
área musical, o que contava mesmo era o seu senso de disciplina e de
acreditar que as coisas podem acontecer ou ser mudadas para melhor.
Seu
currículo merece uma reflexão. A liderança, apoiada no entusiasmo de
sua juventude e criatividade, cedeu espaço para uma função que se
poderia dizer mais contemplativa e voltada àqueles nobres ideais da
carreira que abraçara com fé e abnegação. Dá seqüência a seus estudos
humanitários e torna-se padre, abraçando assim a missão de ser um elo
integrador direto de Deus com suas criaturas. De mestre diretamente
ligado a seus alunos transforma-se no pastor cujo rebanho se amplia,
levando a palavra de fé e de conforto a todos os rincões da cidade,
inclusive no meio rural. Com humildade e modéstia, traços de seu
caráter, professa, sobretudo, a caridade de maneira anônima e sempre
nobre, base da cristandade. Com seus recursos próprios ajuda os mais
pobres, sempre contribuindo também com as instituições campanhenses Esse
foi talvez o legado mais humano e digno de irmão Paulo à sociedade
campanhense, nele moldurando uma aura de pessoa muito especial, amada e
reconhecida por toda a população campanhense.
Seu
falecimento no último dia 31 faz diminuir a cidade, que perde um grande
homem, o pastor e protetor dos humildes, o homem de fé respeitado e
amado por todos. Sua despedida, na Catedral, templo em que sua presença
exemplar difundiu tantas vezes a mensagem cristã de fé e caridade aos
seus amigos e fiéis, muitos talvez até mais amigos que fiéis, foi
emocionante. Postados, ao lado de seu corpo inerte, perfilaram-se dois
integrantes da Banda Marcial Irmão Paulo, elegantes escudeiros trajados
com o uniforme característico em vermelho e preto, como a mostrar-lhe
gratidão pela sua presença inolvidável entre os campanhenses.
Irmão
Paulo foi amado como poucos nesta terra que ele escolheu – e foi
escolhido – para amar. Uma salva de palmas com muitas lágrimas e emoção
foi a demonstração de gratidão, amor e reconhecimento enquanto seu corpo
se despedia definitivamente deste povo que ele tanto amou em vida. Tanto isso é verdade, que escolheu morrer aqui em Campanha. Sua
última visita a parentes no Canadá foi de despedida. Pois queria estar
aqui entre os seus amigos, principalmente os pobres que ele tanto
ajudou, para finalizar sua missão na vida.
Nós, campanhenses, orgulhamo-nos que Campanha foi o porto escolhido por ele para o embarque que o levou a Deus.
Campanha, 31 de março de 2007.
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