terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

12ª FLIC será dedicada a Padre Irmão Paulo (Emilien Lamothe) II

PADRE IRMÃO PAULO: SEM ELE A CIDADE FICOU MENOR


Por: Paulo Lucas Nani (Folha Campanhense - Edição 120 / de abril/2007)

Volte-se um pouco no tempo, na década de 1920. O menino Emilien Lamothe aprende suas primeiras letras em sua cidade natal, Saint Leonard d´Aston. Protegido em seu manto familiar, nascido no Canadá, um belo país, organizado e rico, não imaginava que o destino lhe reservava uma grande aventura, muito longe de sua cidade, além do oceano. Tudo começou quando descobre sua vocação religiosa e ingressa na Congregação dos Irmãos do Sagrado Coração. E, ainda muito novo, vinte e poucos anos, aporta num país longínquo de sua pátria e de sua família. Uma nação de natureza esplendidamente bela sob a claridade constante do sol dos trópicos e do verde das matas, até então intocadas, onde habitava um povo devoto, carente e pobre, mas hospitaleiro e sedento por conhecimentos.
Seu amor por Campanha tem data marcada, 27 de fevereiro de 1948, quando aqui chegou. Um amor quase juvenil, sem talvez maiores conseqüências, atitude própria de quem tem a juventude em seu rosto e as ilusões de muita vida pela frente. Em Campanha, começou um belo e extenso trabalho de missionário professando a educação como a grande mola propulsora para o crescimento das pessoas e cidadãos. A Congregação dos Irmãos do Sagrado Coração, da qual foi um de seus mais expressivos expoentes, foi a grande dádiva que abençoou gerações de alunos no aprendizado dos livros e da vida. O grande Colégio São João preparou homens para a vida através do conhecimento e saber, lastreados em indissolúveis princípios éticos, morais e cristãos. Irmão Paulo representou com competência e apostolado esse nobre mister de professor aqui em Campanha, angariando de seus muitos alunos a gratidão e o respeito por sua influência, sua amizade e seus conhecimentos.
Irmão Paulo era, antes de mais nada, um grande líder que transformou projetos e sonhos em notáveis realizações. Sabia comandar e se fazer obedecido. Um bom exemplo foi sua condução impecável de uma banda marcial que, sob sua regência e comando, tornou-se campeã e objeto de admiração e orgulho dos campanhenses. O detalhe é que o regente irmão Paulo nunca fora da área musical, o que contava mesmo era o seu senso de disciplina e de acreditar que as coisas podem acontecer ou ser mudadas para melhor.
Seu currículo merece uma reflexão. A liderança, apoiada no entusiasmo de sua juventude e criatividade, cedeu espaço para uma função que se poderia dizer mais contemplativa e voltada àqueles nobres ideais da carreira que abraçara com fé e abnegação. Dá seqüência a seus estudos humanitários e torna-se padre, abraçando assim a missão de ser um elo integrador direto de Deus com suas criaturas. De mestre diretamente ligado a seus alunos transforma-se no pastor cujo rebanho se amplia, levando a palavra de fé e de conforto a todos os rincões da cidade, inclusive no meio rural. Com humildade e modéstia, traços de seu caráter, professa, sobretudo, a caridade de maneira anônima e sempre nobre, base da cristandade. Com seus recursos próprios ajuda os mais pobres, sempre contribuindo também com as instituições campanhenses Esse foi talvez o legado mais humano e digno de irmão Paulo à sociedade campanhense, nele moldurando uma aura de pessoa muito especial, amada e reconhecida por toda a população campanhense.
Seu falecimento no último dia 31 faz diminuir a cidade, que perde um grande homem, o pastor e protetor dos humildes, o homem de fé respeitado e amado por todos. Sua despedida, na Catedral, templo em que sua presença exemplar difundiu tantas vezes a mensagem cristã de fé e caridade aos seus amigos e fiéis, muitos talvez até mais amigos que fiéis, foi emocionante. Postados, ao lado de seu corpo inerte, perfilaram-se dois integrantes da Banda Marcial Irmão Paulo, elegantes escudeiros trajados com o uniforme característico em vermelho e preto, como a mostrar-lhe gratidão pela sua presença inolvidável entre os campanhenses.
 Irmão Paulo foi amado como poucos nesta terra que ele escolheu – e foi escolhido – para amar. Uma salva de palmas com muitas lágrimas e emoção foi a demonstração de gratidão, amor e reconhecimento enquanto seu corpo se despedia definitivamente deste povo que ele tanto amou em vida. Tanto isso é verdade, que escolheu morrer aqui em Campanha. Sua última visita a parentes no Canadá foi de despedida. Pois queria estar aqui entre os seus amigos, principalmente os pobres que ele tanto ajudou, para finalizar sua missão na vida.
 Nós, campanhenses, orgulhamo-nos que Campanha foi o porto escolhido por ele para o embarque que o levou a Deus.
Campanha, 31 de março de 2007. 
 

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