sexta-feira, 12 de julho de 2019

Cônego Luzair na semana santa.

Numa missa durante a Semana Santa 2019, celebrava o sr. bispo, Dom Pedro, e auxiliando-o na concelebração o Cônego Luzair. Homem sério e de poucas palavras. Sempre fiel à ortodoxia. Excelente confessor.

Esqueceram de acender as velas sobre os belos e altos candelabros que estavam sobre o altar. Mais de "350" acólitos e coroinhas numa peleja para tentar alcançar o pavio das velas nas alturas. Com uma vela comprida tentavam, que tentavam. Nada. O mais alto dos acólitos equilibra-se nas pontas dos pés, em vão. Outro, prestativo, corre com um caixote. Outro ainda com uma cadeira. Nada de chegar a chama até o pavio. 

Eis que surge a figura do Cônego Luzair, atlético, sem dizer uma palavra. Pega com firmeza o pesado candelabro de sobre o altar e simplesmente o desce até a altura desejável. Daí a coisa andou. Todas as velas foram devidamente acesas. Enquanto todos procuravam a solução do problema nas alturas, nosso inteligente pároco, a trouxe olhando para baixo.

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Durante a procissão do Encontro, deparo com nosso pároco ali no final da fila. Um dos últimos. De batina. Com o Terço nas mãos. Discreto. Em total silêncio. Contemplativo. A modéstia e simplicidade deste padre "fala" mais que discursos de inúmeras páginas.  Preferiu ir ali, junto ao povo, a rezar seu terço a ficar ricamente paramentado debaixo do pálio. Não que isso seja errado ou abuso de opulência, o que quero dizer é que esta é a preferência dele. Se não tivesse outro sacerdote para acompanhar solenemente a procissão, com toda certeza ele estaria lá. Cumprindo sua bela missão de levar o Evangelho a todos os campanhenses.

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Ao término do Bingo no Fuadão, estava a conversar com alguns amigos na espera da fritura de pastéis para levar para casa. Chamou minha atenção, nosso nobre pároco, de clergyman e tudo mais, a percorrer a arquibancada da quadra com um saco de lixo imenso na mão. Recolhia todos os resíduos deixado pelo pessoal que participou da festa. Logo em seguida, percebo que agentes de pastoral, fazem o mesmo. O exemplo realmente arrasta.

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Cristãos?

Curiosamente, esta semana deparei-me por três momentos com a mesma essência:

1. No livro que estou a ler, de Eric Voegelin, ele fala sobre a desumanização católica e protestante no período pré-nazista e com a ascensão de Hitler na Alemanha. Enquanto "apenas" judeus estavam sendo assassinados, estava tudo em ordem. A partir do momento que Hitler se vira contra os cristãos, quando estes percebem as bombas voando sobre suas cabeças, esboçam reagir.

2. Num episódio da série Easy (não recomendo. Muito ruim. Apelativo sexualmente. Das 3 temporadas, só uns 4 episódios interessantes), uma garota é "punida" pelos pais, obrigada a freqüentar as missas dominicais. A garota tenta dar o troco colocando em prática as palavras do padre na homilia. Mostra a hipocrisia de famílias católicas abastadas,  sentido-se cristãs por freqüentar a missa no domingo. Mais nada. Nada de caridade, nada de se preocupar e assistir os pobres, nada de evangelizar (nem ao menos os filhos) nada de meter a mão na massa, etc.

3. Padre Wendel advertindo em sua homilia de domingo, sobre sermos católicos, sermos cristãos, desprovidos de seguir verdadeiramente os ensinamentos de Cristo. Não levamos a sério o ser cristão. O somos apenas na medida que nos agrada. O que incomoda, é deixado de lado. Vista grossa. Ignorado.

Corremos um sério risco, a persistir esta frieza espiritual acompanhada da desumanização, da estagnação, do relaxamento intelectual, entre os leigos e principalmente no clero (pois é nosso parâmetro), de vivermos algo parecido com o que aconteceu com os alemães, que produziram o nazismo e elevaram  um demônio ao Poder. Já passamos bem perto com o advento terrível do socialismo/comunismo pós Regime Militar.

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Touradas, provas campeiras, rodeio… Moralidade e reflexões sobre seus valores e virtudes

Apesar de não ser adepto, de não gostar mesmo de touradas, rodeios, etc. o texto do amigo Dr. Rafael Vitola Brodbeck é bastante esclarecedor. Publicando, pois o blog original não mais existe. Uma forma de manter vivo textos com teor católico, conservador, tradicional.

Por Rafael Vitola Brodbeck

Fonte: Blog Veritatis

Esse modo de lidar com os animais não é, de per si, cruel. Pode haver um ou outro que o sejam, ou mesmo a maioria, mas não a crueldade não é ontológica. Só nos chocamos, por vezes, porque estamos acostumados com o politicamente correto, o pensamento dominante que iguala homens e bichos, e às vezes nem nos damos por conta.

Aqui no RS, as provas campeiras imitam a lida de campo, a faina. E esta imita a guerra. O gaúcho é belicoso, militaresco por natureza, dado que nasceu peleando pela consolidação da fronteira. Nas provas, essa belicosidade é simbolizada. E muitos valores existem nelas: o companheirismo entre a peonada, a hierarquia (patrão, capataz, peão), a paternidade dos superiores, a humildade, a diferença entre homens e animais, o reconhecimento dos perigos da vida, o culto às tradições, a coragem (essa virtude tão esquecida em nossos tempos de amor à covardia), a disciplina, a laboriosidade, a vida em família, a técnica, a sabedoria transmitida de geração em geração (como encilhar um cavalo, como domar um potro, como laçar, e a profundida filosófica desses atos cotidianos), tudo isso é carregado de um simbolismo muito profundo que nos remete à Civilização Cristã. A prova campeira, no RS, é uma herança espanhola, um vínculo profundíssimo com a Idade Média.

Buscar a crueldade com os animais por si só é errado, mas aceitá-la, apenas, como parte de algo maior, como consequência, não é errado, nem imoral. Podem alguns não gostarem, mas não é certo envolver a moral católica nisso. É como a história do cigarro: não gosta, ok, mas não me venham dizer que é pecado, porque não é.

A caça à raposa é uma tradição igualmente cheia de significados: o esmero, o cavalheirismo, a cortesia, a delicadeza nos detalhes, a preparação, a disciplina, a distinção entre homem e animal, e, aparentemente paradoxal, a confiança entre homem e animal (seu cachorro), a técnica tradicional, tudo isso é uma gama de valores humanos que formam o ethos cultural que não se pode desprezar. Fazê-lo seria aderir ao positivismo comteano.

De outra sorte, não acho que se deva dissociar fé e rodeio. A simples presença de Nossa Senhora em tais eventos é um sinal da religiosidade, ainda que cultural, no meio do povo simples. Não devemos dissociar, e sim aproveitar o momento para colocarmos em ação técnicas de apostolado que sejam mais eficazes. Os ginetes (no RS, peão é outra coisa) fazem tanta questão da imagem da Aparecida: prova de que, pelo menos culturalmente, o sagrado ainda se faz presente, e, mais ainda, nítido símbolo de que as tais provas são plenamente compatíveis com a Civilização Cristã.

“De las corridas de Toros
P. ¿Las corridas de Toros como se usan en España son prohibidas por derecho natural? R. Que no lo son; porque según en nuestra España se acostumbran, rara vez acontece morir alguno, por las precauciones que se toman para evitar este daño, y si alguna vez sucede es per accidens. No obstante el que careciendo de la destreza española y sin la agilidad, e instrucción de los que se ejercitan en este arte, se arrojare con demasiada audacia a torear, pecará gravemente, por el peligro de muerte a que se expone.P. ¿Están prohibidas las corridas de Toros por derecho eclesiástico? R. Que aunque Pío V prohibió las corridas de Toros con penas gravísimas, las permitieron después para los seglares Gregorio XIII, y Clemente VIII, quitando las penas impuestas por aquel Sumo Pontífice, pero mandando fuesen con estas dos condiciones; es a saber, que no se tuviesen en día festivo, y que se [432] tomasen por aquellos a quienes incumbe, todas las precauciones necesarias, para que no sucediese alguna muerte. Por lo que con estas dos condiciones son en España lícitas para los seglares las corridas de Toros. A los Clérigos, aunque se les prohiba el torear, no se les prohibe la asistencia a las corridas. Con todo les amonesta su Santidad se abstengan de tales espectáculos, teniendo presente su dignidad y oficio para no ejecutar cosa indigna de aquella, y de éste.P. ¿Pecan gravemente los regulares que asisten a la corrida de Toros? R. Que sí; porque obran en materia grave contra el precepto impuesto por Pío V. Los Caballeros de los Ordenes Militares no son comprehendidos en este precepto por no ser verdaderos religiosos, y así quedan excluidos por Clemente VIII. La excomunión impuesta contra los regulares que asisten a dichas corridas, según la opinión más probable, sólo es ferenda.P. ¿Está prohibida a los regulares la asistencia a las corridas de novillos? R. Que no; porque sólo se les prohibe la asistencia a las de Toros, y por este nombre no se entienden los novillos; y también porque en la corrida de éstos el peligro de muerte es muy remoto. Mas no pecarán los regulares si vieren torear desde las ventanas de sus casas; o de otra parte pasando por ella casualmente; pues esto no es asistir a la corrida. Pecarán, por el contrario, si asisten desde alguna ventana del circo aunque sea entre celosías, y no haya peligro de muerte; porque siendo la prohibición absoluta, debe absolutamente observarse.P. ¿Son lícitas fuera de España las corridas de Toros? R. Que no; lo uno porque la moderación hecha por Gregorio XIII, y Clemente VIII, sólo habla con los seculares y clérigos existentes en España. Lo otro, porque los de otras naciones, o ya sea por no tener la agilidad de los Españoles, o por no ser tan diestros en este ejercicio están expuestos al peligro a que no están estos. Como quiera que sea, la prohibición de Pío V debe regir fuera de España.”(Marcos de Santa Teresa. Compendio Moral Salmaticense, según la mente del Angélico Doctor; Pamplona: Imprenta de José de Rada, 1805, Tratado diez y seis. Del quinto precepto del Decálogo, Capítulo único. Del homicidio. Punto once)
Vê-se que:

1. As touradas não são proibidas por direito natural. Logo, não são pecado, por si.
2. A única proibição às touradas é de direito eclesiástico, e para os clérigos. A razão dessa proibição está no tipo popularesco de espetáculo e no ambiente pouco propício a sacerdotes.
3. A análise da moralidade das touradas NÃO se dá pela “crueldade” aos animais, e sim pela potencialidade de risco ao ser humano (é com o toureiro, não com o touro, que se importa a moral). Mesmo que proibida fosse, então, a razão não seria pela pretensa crueldade.
4. O comentário acima vale para outras provas semelhantes.