DISCURSO de autoria de LEONARDO GONÇALVES LIMA proferido na inauguração do GINÁSIO DE ESPORTES IRMÃO PAULO, no PRONOAMA, em 26 de NOVEMBRO de 2006.
Meu querido irmão Paulo, meu prezado Padre Paulo, meu estimado Emilien Lamothe
Foi
lá pelos idos de 1948 que aquele rapaz com cara de menino chegou ao
Brasil vindo de uma terra linda, próspera, rica e... gelada. Seu amor a
Deus, levou-o a abdicar do beisebol, da patinação no gelo, dos bonecos
de neve, da família, dos amigos de infância e adolescência, e embarcar
numa aventura. Seu conhecimento da nova terra em que iria viver era
pouco: povo indolente que gostava de futebol, carnaval, cachaça e com
ínfima escolaridade. O nome desse religioso era Paulo.
Os colegas de congregação que o antecederam já estavam enfrentando as dificuldades naturais de “estranhos no ninho”.
E Irmão Rosário já o alertava:
- Hei, cuidado com os rapazes eles ficam gozando da nossa “carra!”
E
aos poucos foi, às duras penas, aprendendo o português. De vez em
quando escapava alguma coisa, como por exemplo, naquele domingo após a
missa, um dos queridos irmãos, foi dizendo:
- Agorra, todo mundo tirrar o palito e ir tomarr banho na chícarra do bispo.
Na realidade era para a rapaziada tirar o paletó e preparar para nadar na chácara do bispo.
Mas uma coisa interessante aconteceu com o nosso Irmão Paulo: apaixonou-se pelo futebol.
Esqueceu, definitivamente, o beisebol.
Com
ele, o ginásio passou a contar com grandes times de futebol respeitados
em todo o sul de Minas. Quantas vezes foi campeão da cidade? Não sei,
porém não foram poucas. Os alunos que sempre olhavam os novos irmãos com
alguma reserva, passaram imediatamente a aceitá-lo.
- Esse é dos nossos, nem parece gringo!
E o novo irmão foi construindo o seu apostolado.
A
fanfarra precisava de um alento que a tirasse da mesmice das outras
corporações musicais. Lá veio o Irmão Paulo, reestruturou, deu-lhe uma
cadência de marcha completamente diferente e o sucesso foi enorme,
ganhando prêmios em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, etc...
Tive
a honra de ser aluno do Ginásio Diocesano São João e sempre me orgulhei
de tê-lo como professor. Portanto, quando fui designado para aqui dizer
umas palavras, bem sabendo das minhas limitações, não pude dizer não. O
mestre que me perdoe, mas hoje não escuto seu sermão. Hoje é o senhor
que me ouvirá.
E
inicio bendizendo a Deus por colocá-lo em nossa vida! Agradeço a Deus,
mil vezes, pelo presente que diuturnamente nos concede. Que outra
cidade, além da Campanha, possui a graça de ter um amigo, conselheiro, a
qualquer hora a ouvir-nos, a orientar-nos? Nenhuma! Somos a única e,
por isso mesmo, uma terra predestinada e querida.
Um dia cheguei em casa e encontro irmão Paulo, me esperando, e foi logo dizendo:
-
Vim convidá-lo para uma missão e não aceito desculpa ou negativa. Para
dizer a verdade é um pedido de um professor e amigo e já estou
agradecendo de você ter aceito o desafio.
- Mas afinal, irmão Paulo, o que eu acabei de aceitar?
Você
vai fazer parte do primeiro Conselho Administrativo Paroquial - CAP.
Tinha certeza que você não iria me decepcionar. Estou com pressa. Até
logo.
- Tem jeito de dizer não para uma pessoa assim?
Eu prometi para os organizadores desta cerimônia que não iria demorar com as minhas palavras.
Muita
coisa deveria eu dizer: o mestre que cuidava dos internos, do professor
enérgico, do homem que conquistou uma cidade inteira, do organizador da
Semana Olímpica, do caridoso padre que não se esqueceu da Vila
Vicentina e muito menos do PRONOAMA (Projeto Novo Amanhã). Você que me
escuta, quer medir a estima que o povo tem pelo irmão Paulo? Vá até o
Distrito dos Ferreira. Lá ele é idolatrado! Temo forte, mas verdadeiro!
Recentemente passei por uma delicada intervenção cirúrgica no Hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo. O
meu colega de quarto era um senhor de São Bernardo do Campo. Seu
cunhado ao visitá-lo e descobrindo ser eu da Campanha, foi logo dizendo:
Nossa,
conheci Campanha, pois integrei a equipe de futebol de salão de São
Bernardo. Como era gostoso ir até a sua cidade. Lá mora um homem de
Deus, a melhor pessoa que transitou em minha vida: Irmão Paulo. Como ele
está?
A
admiração e a estima são virtudes que se ganha com os nossos exemplos. É
ao longo da vida que o galardão de honradez é conquistado, dia-a-dia,
hora a hora, minuto a minuto. Com suor, com sacrifício, renúncias, com
calúnias sobre a cabeça, com achincalhe nas costas é que se alicerça um
conceito admirado e invejado por todos.
É
por tudo isso: sua coragem em abandonar a família, amigos, costumes, a
certeza de uma vida tranqüila, por sua determinação em correr atrás de
um ideal, pelas noites mal dormidas, viajando com os alunos internos,
preparando aulas, corrigindo cadernos, correndo atrás de patrocínio para
as Olimpíadas, de alimentação para as crianças do PRONOAMA, ajudando
com remédios e dinheiro aos assistidos da Vila Vicentina, prestigiando
as solenidades da cidade com a presença sempre marcante da hoje Banda
Marcial Municipal Irmão Paulo, ontem fanfarra, pela sua fé inabalável
num Deus de amor que o levou à condição de sacerdote para melhor atender
o seu povo, o povo de Deus, por toda a sua juventude, seu vigor, sua
inteligência, seu destemor, suas virtudes, colocados à disposição
integral de seus conterrâneos campanhenses, pelos seus dotes de direção
no ginásio e Colégio Vital Brasil, pela fidelidade à Congregação que
abraçou desde moço, enfim: por sua disponibilidade infinita a Deus e
seus irmãos é que aqui nos reunimos para uma homenagem simples, mas
repleta de carinho e amor: colocar seu nome num ginásio que era seu
sonho e hoje é uma realidade.
Todos
nós estamos passando por essa terra. Dela nada levaremos. Somente
deixaremos as pegadas de nossos passos e, assim mesmo, por pouco tempo!
No
entanto, levaremos as nossas realizações espirituais. Elas serão o
nosso cartão de apresentação junto a Deus. A maioria, por certo chegará
de mãos vazias. Porém, o senhor, Irmão Paulo, não terá condições de
carregar sozinho suas obras. Foram muitas, enormes. Eu, como seu aluno e
amigo, coloco-me à sua disposição para ajudá-lo. E aqui entre nós,
Irmão, não dá para o senhor me emprestar uma dúzia dessas para eu também
conseguir o galardão da glória? Acho que São Pedro não irá criar caso.
Parabéns aos organizadores dessa solenidade, parabéns aos idealizadores da homenagem. Nada mais justo, nada mais oportuno.
Parabéns irmão Paulo pelo seu ginásio que como sempre acontece, você entrega aos amiguinhos ávidos do saber, e de proteção.
Deus, por certo, está recebendo essa homenagem com muito agrado. Afinal, a homenagem é a um filho seu muito amado!
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