terça-feira, 22 de maio de 2018

Lições de clarineta

Lendo uma postagem do amigo poeta Bernardo Souto, veio de imediato uma lembrança dos meus tempos de juventude.

Gostava/gosto muito de musica, mas não entendo nada. Quando eu tinha uns 16 anos, empolgado, resolvi aprender musica com um grande maestro de saudosa memória aqui da urbe. Dentre tantos instrumentos, tentei a clarineta. 

Maestro Walter Sales. Um negro franzino, baixinho, de uma seriedade extrema quando o assunto era musica. O homem respirava notas musicais. Um gênio, mas um homem simples, do povo. 

Maestro Walter Sales
Ele enisnava no porão de sua casa. Emprestava os instrumentos e não cobrava nada. Fui com um primo. Para impressionar bem, ele mostrou uma foto na parede, daquela famosa imagem do Dizzy Gillespie com as bochechas infladas. Mostrou a maneira correta de colocar a boquilha entre os lábios e soprar, nunca enchendo de ar as bochechas. Pra quê. A visão da foto, mais o biquinho que o maestro fazia, o riso foi incontrolável. O homem ficou furioso. E nós, envergonhados.

Dizzy Gillespie
Tentei por varias semanas estudar todas as lições teóricas, pacientemente ensinadas pelo maestro. Nunca entrou na minha cabeça limitada. Por fim desisti. E para devolver o instrumento? O medo da provável bronca foi maior. Entrei de mansinho no alpendre do professor e acomodei o estojo da clarineta numa cadeira próxima à porta. Toquei a campainha e sai correndo. Na verdade, a fulga não foi do sô Walter, mas de mim mesmo. Do meu fracasso musical. 

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