quarta-feira, 11 de junho de 2014

Algumas reflexões feicebuquianas (II) - Prof. Olavo de Carvalho

“Nos anos 80 andei estudando as seitas pseudo-religiosas, do tipo Rajneesh, Moon, "Meninos de Deus" etc. Juntei montanhas de material, mas, quanto mais sabia, mais enojado ficava com tanta abjeção e baixeza, até o ponto de sentir que precisava esquecer o assunto por algum tempo, para ganhar distância. Começo a sentir a mesma coisa, agora, com a política brasileira. Ainda não cheguei ao ponto de exaustão em que só o silêncio dá conta de expressar um desprezo inexpressável, mas, confesso, estou chegando lá. Aliás, quem não está?”

“Desde que comecei a ler livros, meu sonho era um dia emergir do meio social culturalmente depressivo e ter um círculo de amigos com quem pudesse conversar seriamente sobre arte, literatura, filosofia, religião, as perplexidades morais da existência e a busca do sentido da vida – o ambiente necessário para um escritor desenvolver sua autoconsciência e seus talentos. Li centenas de biografias de escritores e todos eles tiveram isso. Nunca realizei esse sonho, nunca tive esse ambiente estimulante. Por volta dos quarenta anos, entendi que não o teria nunca, e decidi que minha obrigação era fazer tudo para que outros o tivessem.  Toda a minha atividade de ensino é voltada para isso. É com profundo desprezo que ouço gente dizendo que o objetivo dos meus esforços é “criar um movimento de direita”.”

“Por que tenho tantos admiradores entre os maiores intelectuais e escritores deste país, e tantos detratores entre os que não sabem sequer colocar um pronome? É porque os meus escritos só foram parar nas mãos destes últimos por um acidente de distribuição. Em princípio, escrevo só para pessoas inteligentes e cultas ou para estudantes capazes. Os outros não foram convidados: são apenas penetras.”

“Respeitar a opinião do próximo é apenas reconhecer-lhe o direito de ser burro.”

“Moralidade petista: Pare de fumar, comece a dar, cheirar coca, tomar crack ou fazer alguma outra coisa saudável.”

“Quando a mentira oficial se torna sistêmica, as pessoas não são forçadas somente a repeti-la, mas a raciocinar de acordo com ela. O resultado é a destruição dos processos normais de funcionamento da inteligência humana. Daí ao império da bestialidade o passo é bem curto.”

“O sinal mais patente do primarismo mental brasileiro é a confusão de categorias, da qual resulta que todos os julgamentos acabam ficando fora de foco, isto quando não estão completamente errados ou não têm nenhum sentido. Por exemplo, a crença pueril -- um automatismo mental quase infalível hoje em dia -- de que, diante de uma afirmação qualquer, lida ou ouvida, você sempre pode e sobretudo deve "concordar" ou "discordar". Pessoas com alguma educação superior (coisa inexistente no Brasil) sabem que, em geral, concordar ou discordar não têm a mais mínima importância. Compreender, analisar, aprofundar, comparar, atenuar, ampliar, contextualizar -- estas são as reações básicas do leitor culto. O idiota, ao contrário, imagina que tudo o que se escreve no mundo existe só para que ele o julgue, absolva ou condene -- atividades às quais ele se entrega com uma presteza e uma volúpia incomparáveis.”

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